Escritores falam sobre os desafios de despertar o interesse pela poesia nas crianças

publicado: 16/10/2015 15h05,
última modificação: 16/10/2015 15h05

O escritor mineiro Leo Cunha fez a palestra de abertura do Filig, na noite de ontem (15), no auditório Sete Colinas do Sesc Garanhuns. Com quase 50 livros publicados e vários prêmios, como o Jabuti, o Nestlé, o João-de-Barro, o FNLIJ e o Biblioteca Nacional, Leo Cunha ressaltou a importância para sua formação como escritor de ter nascido em uma família-leitora. “Cresci em uma casa que o objeto mais comum era o livro. Mais do que brinquedos, minha casa tinha livros e sou grato por isso”, afirmou Leo Cunha, relembrando as tardes que passava na livraria de sua mãe, simplesmente lendo “todos” os livros infantis existentes no local.

Além desse contato com o mundo dos livros durante toda a infância, Leo Cunha também foi muito influenciado por seu avô, homem de poucos anos de estudo, mas com um enorme interesse pela literatura, sobretudo pela poesia.

Com uma plateia formada principalmente por professores, Leo Cunha destacou a dificuldade que os profissionais da educação encontram ao trabalhar a poesia com crianças. “É um desafio para o professor trabalhar a poesia, porque a poesia não deve ser entendida como algo linear. A poesia não trabalha com um só caminho, mas com as dobras, com os desvios”.

Fazendo uma metáfora com o cubo mágico, brinquedo que tenta unir suas diferentes cores até que chegue a completude de uma cor, Leo Cunha lembrou que o professor precisa entender que a poesia não é só lirismo, mas é também um jogo de sentidos, no qual a criança pode optar pelo estranhamento do óbvio, pela sonoridade, pela visualidade e pela intertextualidade. “A poesia vai se fazendo na combinação de todos esses aspectos como no cubo mágico. Poesia são várias coisas ao mesmo tempo. Quando o professor entende isso, melhor para ele, porque possibilita que o estudante deixe aflorar aspectos diferentes ao fazer poesia “.

BATE-PAPO – A primeira noite do Filig teve, ainda, a mesa redonda “Onde a poesia para crianças pede passagem?”, com a participação da escritora Lenice Gomes, da radialista, contadora de histórias e cordelista Mariane Bigio e mediação da editora Renata Nakamo. Durante a conversa, as convidadas falaram da importância dos pais e professores e no incentivo à leitura.

“A poesia pede passagem em todo lugar, em casa, na rua e na escola. Precisamos tirar o livro da prateleira e dialogar com as crianças”, afirmou Lenice Gomes. Ela contou que na infância gostava de ouvir as histórias contadas por sua mãe e pelos cordelistas nas feiras. Foi assim que se tornou uma pesquisadora da tradição oral. Na década de 80, quando trabalhou em uma biblioteca, desenvolveu o projeto “Recreio das Palavra”, reunindo crianças para falar sobre poesia. “O convite para ser escritora surgiu nesse período. Comecei a escrever em contato com as crianças, foram elas que me ajudaram nessa descoberta”, disse.

Questionada pela mediadora Renata Nakamo sobre os desafios de despertar o interesse da poesia na “era da internet, tablets e vídeos-games”, a cordelista Mariane Bigio afirmou que hoje vivemos numa sociedade ‘adultocrata’, onde tudo e muito objetivo e concreto. “Percebo que algumas crianças perdem muito cedo o sentido do lúdico, da imaginação. E nós, que trabalhamos com a ‘oralitura’, precisamos vencer esse obstáculo, mostrar a beleza e a fantasia que existe dentro de um livro”, disse.

LIVRO – Após sua palestra, Leo Cunha lançou o livro “Poesia para crianças: conceitos, tendências e práticas”, editado pela Positivo. O livro ganhou o Prêmio FNLIJ (Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil) 2014 na categoria de “Melhor Livro Teórico”. A proposta da obra é servir como material de apoio aos professores do Ensino Básico e da Educação Infantil ao Ensino Médio. Dirigido aos professores, mas podendo ser lido por qualquer leitor interessado no tema, o livro “Poesia para crianças” apresenta ensaios de cinco autores com experiência na produção e recepção de poesia.

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