O Filig 2015 proporcionou o reencontro de dois grandes ilustradores da literatura infantil. Amigos há vários anos, o espanhol Miguel Tanco e o brasileiro André Neves participaram, juntos, na noite dessa sexta-feira (16), de palestra no auditório do Sesc Garanhuns que teve como tema “A poesia e a imagem sem fronteiras”. Durante o encontro, eles falaram sobre a paixão pela ilustração e os desafios do mercado.
“Eu amo a ilustração desde a infância, antes mesmo de descobrir o verdadeiro conceito de ilustração. Nasci na cidade de Badajoz, na Espanha, um local muito pacato e distante da capital, e por isso não tinha acesso a muitos livros. Mas sempre gostei de desenhar. Eu desenhava sem saber que estava, na verdade, ilustrando”, disse Miguel Tanco.
Para André Neves, a ilustração o faz “viver melhor”, como definiu. “Amo ilustrar porque consigo me distanciar do cotidiano, da rotina, e ficar mais perto do mundo da fantasia. O meu processo criativo é muito pessoal. A história não nasce já em forma de livro. Depois que eu trabalho a história dentro de mim é que percebo que pode virar um livro”, explicou.
Sobre o trabalho de escrever e ilustrar, André Neves afirmou que nesse processo, geralmente, acaba priorizando a imagem. “Primeiro faço a construção do texto e depois a construção da imagem. E quando vou fazer essa união, se for necessário algum corte, sempre será no texto. A ilustração é tão importante para mim que me faz escolher que tipo de linguagem escrita eu vou utilizar”.
Em relação ao seu processo criativo, o espanhol Miguel Tanco contou que, quando recebe um texto para ilustrar, primeiramente faz a leitura com a “visão de leitor”. “Depois leio novamente com o olhar de ilustrador, ou melhor, de caçador de imagens. Vou caçar as imagens para esse texto. Descobrir como as minhas ideias podem se encontrar com o texto. Chamo isso de ‘chave de leitura’, preciso abrir a porta de encontro entre a imagem e as palavras. Quando consigo a chave, ou seja, a imagem, o trabalho fica mais fácil porque essa ilustração serve de ‘trampolim’ para o surgimento de outras sobre a história”, disse. Ele também afirmou que tem preferência em ilustrar poesias. “A poesia trabalha com o instinto, o abstrato, onde as palavras e imagens voam com mais liberdade”.
Sobre o mercado editorial Europeu, Miguel Tanco afirmou que, numa visão geral, é homogêneo, mas há pequenas diferenças que os autores mais experientes conseguem distinguir. “Na Itália, a literatura infantil tem tradição e por isso os editores têm muitas referências. Para um autor em início de carreira, é difícil ingressar nesse mercado”, disse.
Em relação à França, Miguel afirma que o País tem uma produção vanguardista. Os livros franceses acabam se transformando em tendência para o mundo. Já a Inglaterra possui um mercado com tradição, porém muito fechado, focado na produção britânica. “E os mercados português e espanhol ainda estão em desenvolvimento, são muito novos. As produções de livros infantis nesses dois países surgiram nos anos 80 e por isso é um mercado muito aberto à novas experiências”.
Miguel Tanco também falou sobre suas impressões em relação ao mercado editorial brasileiro. “Assim como Portugal e Espanha, a produção literária infantil no Brasil é recente e os autores daqui devem encarar isso como algo positivo, já que existe um campo vasto para ser explorado”.
MESA REDONDA – Quais são as poéticas visões da infância de duas ilustradoras, uma argentina e outra pernambucana? Essa foi a discussão que norteou uma mesa redonda com a ilustradora pernambucana Rosinha e com a argentina Anabella López, na noite de sexta-feira (16), no auditório do Filig.
Nascida no Recife e moradora de Olinda, Rosinha deixou a arquitetura depois de se apaixonar pela literatura infantil e juvenil e passou a se dedicar à ilustração. Com mais de 90 livros publicados, recebeu vários prêmios da FNLIJ e o prêmio Jabuti, pela coleção “Palavra Rimada com Imagem”, publicada pela Editora Projeto.
Já Anabella López formou-se em design gráfico pela Universidade de Buenos Aires, onde também foi professora por vários anos. Desde 2009 trabalha exclusivamente como ilustradora e escritora de livros. Tem livros publicados na Argentina, Brasil, México, Estados Unidos, Canadá, França e nos Emirados Árabes.
A ilustradora pernambucana afirma que quando olha para toda a sua obra constata que o que está presente em seus livros é a sua infância, com todas as experiências relacionadas com a cultura popular e também a opção por registrar o valor que tem o Nordeste. Já Anabella ressalta que em seus trabalhos procura trazer temas universais e filosóficos que estimulem a reflexão, tanto de crianças, quanto de adultos.
Mesmo com aparentes diferenças, as duas ilustradoras têm em comum a preocupação de que seus livros tenham algum significado para o leitor. “A gente pode realmente mudar o mundo com um livro”, sentencia Anabella, com a total concordância de Rosinha.
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